sábado, 23 de abril de 2011

Inhotim - Miguel Rio Branco



Entre os olhos o deserto

Pra quem nunca foi, o lugar parece nem ser possível de existir. Inhotim é surreal e incrível, não tem nem definição... Verde até perder de vista, vários caminhos pra escolher e várias obras no meio disso tudo, onde ninguém esperaria encontrar.
chega a parecer uma daquelas visões que só existem em sonho...


E aí o pavilhão Miguel Rio Branco chega a "destoar" de todo o resto. Um prédio grande e de linhas retas, tão oxidado que até se integra ao redor. No primeiro piso, fotos da série Maciel, tiradas no Pelourinho e retratando principalmente a prostituição; e Blue Tango, que mostra dois meninos jogando capoeira.. O segundo piso tem obras que mostram desde slides que se alternam num círculo enquanto são reproduzidos sons de um ritual indígena até tubarões impressos em seda...
Todas as obras são impressionantes e muito fortes. E se o exterior parece sonho, algumas salas dessa galeria dão a sensação de quase-pesadelo...
Vale muito a pena, experiência única!


O artista
MIGUEL RIO BRANCO
- nasceu em 1946 em Las Palmas de Gran Canaria, Espanha
- pintor, fotógrafo, diretor de cinema, além de criador de instalações multimídia.
- atualmente vive e trabalha em Araras, no Rio de Janeiro

Rio Branco começou expondo pinturas e, depois disso, fotografias e filmes. Já dirigiu e fotografou curtas metragens e ao mesmo tempo, perseguindo sua fotografia pessoal, desenvolveu um trabalho documental de forte carga poética. Reconhecido como um dos melhores fotojornalistas de sua época, é correspondente da Magnum Photos desde 1980, tendo seu trabalho publicado por todo o mundo.

Miguel Rio Branco dirigiu 14 curtas metragens e fotografou 8 longas. Seu trabalho mais recente como diretor de fotografia pode ser visto em 1988 no filme “Uma avenida chamada Brasil” de Otavio Bezerra. Ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia por seu trabalho em “Memória Viva” de Otavio Bezerra e “Abolição” de Zozimo Bulbul no Festival de Cinema do Brasil de 1988. Também dirigiu e fotografou 7 filmes experimentais e 2 videos, incluindo “Nada levarei qundo morrer aqueles que mim deve cobrarei no inferno”, que ganhou o prêmio de melhor fotografia no Festival de Cinema de Brasília e o Prêmio Especial do Juri e o Prêmio da Crítica Internacional no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França, 1982.


Um trecho

 Essa sua capacidade de transitar por várias linguagens, pintura, cinema, fotografia, é uma insatisfação sua ou você acredita que uma única linguagem seja incapaz de dar conta do que você quer dizer?
Eu acho que é um prazer poder misturar essas várias maneiras de expressão. Na minha fotografia existe uma parte que é pintura, e que muitos gostam, outros acham ruim por não ser fotografia “pura”, por ser “mestiça”. Mas para mim, isso já faz parte da minha identificação. Então acredito que tenho que colocar junto as minhas várias experiências. Passeio muito bem por essas trilhas variadas. No entanto, também tenho imagens “puras” que não precisam da ajuda de outras para serem completas.

Aparentemente pode parecer caótico...
Mas acredito que eu tenho uma ordem mais ligada à música, ou musical… Um equilíbrio no limite da queda…
(do livro Miguel Rio Branco, de Simonetta Persichetti)

Algumas obras em Inhotim

Blue Tango, 1984
Cibachrome; polítptico


Fotos série Maciel, 1979
Cibachrome, Fujichrome
 
Neste pavimento da galeria Miguel Rio Branco estão reunidas 34 imagens de um de seus mais importantes e seminais trabalhos: as fotografias realizadas no bairro do Maciel, no Pelourinho, em Salvador. Miguel Rio Branco descobriu o Pelourinho em 1979, quando interessou-se por retratar a prostituição no local e seus personagens, suas histórias de violência. Antigo centro social de Salvador, a região atravessou um severo processo de decadência nos anos 1970, levando à ocupação informal de seus prédios e à degradação das construções antigas. Naquele ano, o artista fez sucessivas visitas ao local e estabeleceu uma relação com seus personagens que, para se deixarem fotografar, recebiam em troca seus retratos montados em monóculos: um código de permuta que remonta às origens da fotografia.

No Pelourinho, o olhar descritivo do fotógrafo documental dá lugar a uma posição de envolvimento com a cena registrada. O resultado central é o encontro entre beleza e erotismo na ruína. Cor e luz são usados como elementos expressivos e excessivos - paredes do prostíbulo cobertas com recortes de revista, a luz invadindo portas e janelas -, os elementos táteis e motores das cenas parecem saltar da imagem plana - as superfícies e linhas imperfeitas da casa, a pele humana marcada, uma cicatriz que parece ter sido feita na própria fotografia. O corpo dos habitantes do Pelourinho é mostrado com crueza e intimidade.


***

Diálogos com Amaú, 1983
Projeção de slide 35 mm em loop sobre voil; som mono
Diálogos com Amaú (1983) é uma das primeiras incursões do artista com instalação audiovisual, apresentada pela primeira vez na XVII Bienal de São Paulo. Na obra, a idéia de fazer uma montagem cinematográfica a partir de imagens paradas é levada ao limite: cada um dos carrosséis dos projetores contém 81 fotos que se repetem e se alternam velozmente nas telas de tecido, criando sobreposição entre elas. O fio condutor das imagens é uma série de retratos de um índio caiapó, o Amaú do título, que surge reincidentemente. Ao fotografá-lo, Rio Branco captou sua doçura, mas também sua melancolia; este rapaz surdo e mudo era uma espécie de pária em sua aldeia (Gorotiri, Sul do Pará).   As imagens que se alternam aos retratos de Amaú são fotografias realizadas até 1983, que registram um Brasil profundo de garimpo, prostituição, matadouros clandestinos, lixões. O foco narrativo se desloca, então, das expressões faciais e gestos de Amaú para encontrar o que seriam suas fugas ou seus delírios. O som da instalação faz parte de um ritual registrado em áudio pelo artista na mesma aldeia.





Este pavimento do Pavilhão Miguel Rio Branco foi concebido como uma experiência de imersão do espectador num espaço escuro e sem nenhuma comunicação com o exterior. Aqui, está exposta uma sequ¨ência de trabalhos do artista produzida em momentos diferentes de sua carreira, utilizando-se de diversos suportes.   As obras, ritmadas no espaço arquitetônico, conduzem o trajeto do espectador tal como a montagem de um filme, uma experiência cinemática que se aproxima do sonho, mas também do acúmulo de sensações, temporalidades e materialidades.


Fichas Técnicas:
Tubarões de seda, 2006

Arco do Triunfo, 2004
Hell’s diptych, 1993-1994
Barroco, 1989
Touch of evil, 1994

Máscara del dolor, 1976
Pêssegos, 1994

Entre os olhos o deserto, 1997
Nada levarei quando morrer, Aqueles que me devem cobrarei no Inferno, 1985

Blue Tango, 1984
Fotos série Maciel, 1979

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